Quem foi Moreno, o Criador do Psicodrama?

imagem de Moreno, o criador do psicodrama

Jacob Levy Moreno é o criador do Psicodrama. Na realidade, Psicodrama é o nome popular dado para a Teoria Socionômica para facilitar sua compreensão. Ele era um excêntrico Psiquiatra que conviveu com grandes nomes como Freud e Jung, desenvolvendo seu próprio método de trabalho com o qual atuou principalmente com grupos. o Psicodrama bebe das fontes da fenomenologia, do humanismo e do teatro, buscando a conexão do ser humano com sua criatividade e espontaneidade.

A vida do criador do Psicodrama foi retratada no livro Jacob Levy Moreno: Autobiografia, escrita pelo próprio autor. Conhecido por muitos como gênio, por outros como louco, pode-se dizer com certeza que Moreno não teve uma vida pacata. Aqui se encontra um breve resumo das grandes aventuras do criador do Psicodrama e um breve histórico sobre o surgimento do Psicodrama no Brasil.

Jacob Levy Moreno

A criação do criador do Psicodrama

Jacob Levy Moreno nasceu em 18 de maio de 1889 em alto mar, em uma embarcação sem bandeira que navegava o Mar Negro durante uma tempestade. Essa é a história que conta em sua autobiografia, apesar de nunca ter sido confirmada por sua mãe, Pauline. Com essa justificativa, o autor nega seu pertencimento a apenas uma nação.

“Nasci cidadão do mundo, um marinheiro viajando de um mar ao outro, de um país a outro, destinado a desembarcar um dia no porto de Nova York” .

Jacob Levy Moreno em sua autobiografia

Seu pai era um caixeiro viajante com hábitos itinerantes, pouco ficava com sua família apesar de ter muito carinho pelo filho. Sua mãe, uma órfã criada pelos irmãos mais velhos, criou praticamente sozinha o pequeno Jacob na cidade de Bucareste. Com 1 ano de idade foi acometido de raquitismo. Após tentativas frustradas com vários tratamentos, uma cigana que estava de passagem recomendou que sua mãe o expusesse diariamente ao sol do meio-dia, proferindo que um dia ele viria a ser um grande homem. As instruções foram seguidas por sua mãe e logo ele se recuperou.

Moreno diz que a primeira sessão psicodramática aconteceu aos seus 4 anos de idade. Frequentava uma escola bíblica sefardita, onde recebia ensinamentos religiosos e assim iniciava seu fascínio com a figura de Deus. Certo domingo, se divertindo com os filhos dos vizinhos no porão de sua casa, sugeriu que brincassem de “Deus e Seus anjos”. Construíram o trono dos céus utilizando cadeiras empilhadas, onde Moreno sentou, na cadeira mais alta representando o papel de Deus. Em determinado momento uma das crianças, que representavam os anjos, o indagou sobre sua capacidade de voar.

“Estendi os braços tentando fazê-lo. Os anjos que estavam segurando as cadeiras voaram para trás também. Um instante depois, caí e me vi no chão com o braço direito quebrado.”

O criador do Psicodrama quando comentou sobre o que considera a primeira sessão psicodramática.

Quando sua família se mudou de Bucareste para Viena, o pai de Moreno passou a visitá-lo cada vez menos. Ele tinha um grande apreço pela sua figura paterna, o que foi importante na definição de vários marcos da sua história. Quando o irmão de seu pai faleceu, ele disse a Moreno que deveria seguir a profissão de médico como seu tio, e assim o fez. Com a família enfrentando dificuldades financeiras, os irmãos de Pauline, Markus e Jancu, passaram a sustentar Moreno e sua mãe. Na adolescência, o autor se distanciou de seus pais, morando sozinho em Viena enquanto seus familiares permaneciam em uma cidade no interior da Alemanha. Nesse momento de sua vida, buscou contato com o divino e consigo mesmo.

Estudou frenéticamente teorias filosóficas, estéticas e teológicas. Após a separação de seus pais, abandonou a escola, deixou a barba crescer (para não interferir com a espontaneidade sadia do corpo) e decidiu viver como um profeta. Com um conjunto de amigos/seguidores, passou a prestar trabalhos comunitários, auxiliando os menos afortunados, principalmente imigrantes. Vivia de doações pela prestação de serviços como tutor de crianças. Enquanto cursava medicina, seu grupo de amigos, dispostos a compartilhar do anonimato, amor e doação decidiram criar uma religião.

Sua busca por autoconhecimento e união com Deus e o Cosmos o levou a reunir um grupo de cinco pessoas com pensamento similar e fundar a religião do encontro. Eram reconhecidos por suas longas barbas e sua abordagem alegre, calorosa e humana. Através de contribuições, mantinham uma casa que abrigava gratuitamente qualquer pessoa que necessitasse de um lugar para ficar. Cada noite, após o jantar, realizavam “grupos de encontro” com os hóspedes/moradores. Nesses grupos, resolviam conflitos em uma conversa horizontal e respeitosa. O desapego e entrega eram fundamentos cruciais dessa religião, sendo praticado por todos os cinco integrantes. Essa fase da vida de Moreno e sua relação com a religião foi fundamental para o desenvolvimento da sua visão de homem.

Moreno e a Religião

A religião sempre representou um papel forte na vida de Moreno. Filho de judeus sefraditas, demonstrava curiosidade sobre Deus desde pequeno. Em seus trabalhos, frequentemente cita o “ser Deus” com um sentido similar a estar integrado com um macrocosmo, onde Deus estaria em todas as coisas inclusive dentro de si mesmo. Demonstrou interesse e estudou a Cabala durante a juventude e foi fortemente influenciado por uma vertente do judaísmo, o hassidismo, religião de seu amigo Martin Buber. Nudel, em seu livro Moreno e o Hassidismo, buscou evidências da influência hassídica na teoria de Moreno, sendo o elemento central da religião o devekut. Essa palavra representa a integração com o “Deus dentro” em oposição a outras vertentes do judaísmo que pregam o “Deus fora” como uma entidade a qual não se possui o acesso imediato, apenas através do rabino.

O hassidismo admite que Deus é a presença divina em cada coisa viva do mundo, e cada pessoa, animal, vegetal é a expressão pura da divindade. O que condiz com a visão moreniana do homem, afirmando que desde o nascimento o humano é um agente espontâneo. Para Moreno, o nascimento é o primeiro ato de espontaneidade no qual o vivente participa ativamente, em contraste com outras teorias da psicologia que interpretam o nascimento como o primeiro trauma. O criador do Psicodrama afirma que é natural que o homem tenha o potencial para ser o melhor que puder, pois ele é Deus. Porém, a exposição a fatores adversos do meio ambiente, como a cultura, relações doentias, perigos, seria responsável por tolher a potência criadora e espontânea do humano. Além da religião, o contato de Moreno com outras teorias e filosofias teve grande impacto na consolidação do psicodrama.

Existencialismo e Fenomenologia

Durante sua formação como médico em Viena, Moreno entrou em contato com várias vertentes políticas e filosóficas que estavam presentes na época, como o comunismo, o nacionalismo e o existencialismo. Os adeptos dessa teoria propunham que toda a existência era algo sagrado e pregavam a liberdade ao indivíduo para “ser”. Princípios fundamentais norteiam essa vertente filosófica, como “a inclusão total do ser”. Essa teoria considera a existência como uma experiência completa, onde o todo é mais que meramente a soma das partes. Nenhum segundo de algo que vive pode ser ignorado pois faz parte do ser. Pregam também, a bondade como estado natural de tudo o que existe. Influenciando a criação das ideias de espontaneidade e criatividade como processos de revolução e vida, se opondo às conservas da cultura e da sociedade.

O movimento existencial-fenomenológico que se baseia na obra de autores como Heidegger e Sartre também se relaciona com o psicodrama. Essa perspectiva forneceu um método de entendimento do ser humano que se opunha ao que foi desenvolvido por Freud em sua teoria psicanalítica. Para a fenomenologia, o entendimento sobre uma situação deve ser baseado no que é revelado, não por interpretações de um observador. É uma perspectiva voltada para o “aqui-e-agora” que trabalha o momento como local único no espaço-tempo para onde os esforços de compreensão devem ser dirigidos, tirando o foco da história passada. O “aqui-e-agora” possui forte relação com o “momento”, citado por Moreno. A filosofia do “momento” trata dos benefícios do instante, do “estar presente”, sendo esse o lugar onde se dá o crescimento. É com a presentificação no momento que a criatividade e a espontaneidade podem florescer. Além das influências teóricas e filosóficas, vivências que Moreno teve ao longo de sua vida também foram fundamentais na cristalização de sua teoria.

Godplaying, Distrito Vermelho e Teatro da Espontaneidade

Um passatempo de Moreno, quando morava em Viena, era sentar em lugares onde crianças estivessem brincando e contar-lhes contos de fadas. Ele se impressionava com a capacidade que crianças possuíam de se transportarem para um mundo fantástico e o representarem no real, através de brincadeiras. Nesse momento, o criador do psicodrama também se aproximava do teatro e do drama (ação). Moreno (1997) afirma:

Naquele tempo e por muitos anos, tive a sensação  de que era o principal ator, o protagonista de um drama com grandes cenas e saídas, cada ato superando o outro, culminando numa grande vitória final. […] O psicodrama da minha vida precedeu o psicodrama como método. Eu fui o primeiro paciente protagonista e diretor da terapia psicodramática.

Autobiografia de Moreno p.59

Durante sua época como tutor de crianças, foi procurado por vários pais em busca de auxílio para seus filhos. Uma dessas crianças era Liesel, considerada uma mentirosa patológica pela sua mãe. Moreno, ao perceber o potencial dramático da garota, recomendou que a menina fizesse aulas de teatro. Assim ela fez, se tornando uma famosa atriz alemã do século 20. Outra experiência importante para a formação do autor se deu no bairro da luz vermelha de Viena, um distrito de prostitutas.

Moreno, compadecido do sofrimento das mulheres que necessitavam se submeter àquela vida, resolveu fazer visitas periódicas em suas casas, acompanhado de um médico especialista em doenças sexualmente transmissíveis. Seu principal objetivo era dar um senso de dignidade à vida daquela população. Para esse fim, organizou grupos onde as mulheres podiam discutir sobre situações sofridas no dia-a-dia, oferecendo recursos técnicos para que pudessem se organizar. No entanto, acreditava mais no potencial terapêutico dos grupos que o econômico, observando que elas perceberam que era possível auxiliar umas às outras, realizando até mesmo um encontro de grandes proporções em um dos maiores salões de Viena. Moreno considera esse “[…] um de meus primeiros esforços para aplicar terapia de grupo a um dos mais difíceis problemas da humanidade, o da prostituição […]” (Moreno, 1997, p.82). Outra experiência que teve, na qual pôde colocar sua teoria em prática, foi no campo de refugiados de Mittendorf.

O campo era composto por habitantes austríacos em sua maioria, lá tinham acesso a funções básicas como escola, hospital, igreja, delegacia de polícia e uma fábrica. Porém, não podiam deixar o campo. Devido a muitos problemas apresentados entre os habitantes, o criador do Psicodrama decidiu, utilizando métodos que contribuiriam posteriormente para o desenvolvimento da Sociometria de Moreno, transferir famílias de lugar tendo como base suas afinidades mútuas. Como resultado, observou que as pessoas tenderam a ser mais cooperativas entre si quando próximas das pessoas com quem sentiam mais empatia.

Foi quando desenvolveu o conceito de tele-relação ou tele. O criador do Psicodrama considera a tele como o oposto à transferência. Nessa, a percepção de um indivíduo sobre outro é realizada através de barreiras perceptuais. Na psicanálise, é tradicionalmente associada às projeções que um paciente faz sobre seu terapeuta. A tele é interpessoal, é definida como “Um complexo de sentimentos que atrai uma pessoa para uma outra e que é provocado pelos atributos reais da outra pessoa” (Moreno, 1975, p.286). As relações télicas são o que mantém um grupo unido, como um elo entre seus componentes. Tele está intimamente relacionada com o conceito de encontro para Moreno. Em “Convite ao Encontro” (1914), o autor descreve:

[…] Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face.

E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos

e colocá-los-ei no lugar dos meus;

E arrancarei meus olhos

para colocá-los no lugar dos teus;

Então ver-te-ei com meus olhos

E tu ver-me-ás com os meus. […]

Um encontro de dois: Jacob Levy Moreno

O encontro se relaciona, então, com a diluição do eu e do tu em um nós, sendo alcançado em momentos de relações télicas. Esse, um dos fundamentos mais importantes de sua teoria. Enquanto ainda morava em Mittendorf visitava Viena periodicamente, lá fez amizade com nomes como Martin Buber e Franz Werfel. Editorou e publicou a revista Daimon, um jornal mensal sobre a filosofia existencialista. se envolvendo com o estabelecimento do Teatro da Espontaneidade.

Moreno era um entusiasta do teatro. Porém, ao mesmo tempo abominava a instituição rígida do mesmo como uma mera dramatização de papéis estáticos. Ele queria criar um teatro onde a imaginação imperasse, o teatro da espontaneidade. O autor diz que a primeira sessão oficial psicodramática aconteceu em 1921, em um famoso teatro de Viena. Nesse dia, Moreno se apresentou sozinho em um palco vazio, exceto por um trono e uma coroa. Com o país passando por um turbilhão político no pós-guerra, convidou os presentes para subir ao palco e atuar como um rei, expondo suas propostas para a platéia, que fazia o papel de júri. Ninguém fora aprovado como digno de reinar. Assim, continuou seu movimento até que, devido à insatisfação com sua vida em Viena, Moreno decidiu se mudar para os Estados Unidos da América.

Uma Nova Cidadania

Em um sonho, a imagem de uma máquina que reproduzia sons veio até Moreno que tomou isso como um sinal. Com a ajuda de seu irmão, um jovem engenheiro, projetou e construiu o equipamento que ele chamou de radiofilme. Esse foi o seu cartão de embarque para os Estados Unidos, onde assinou um contrato para a fabricação e distribuição de sua máquina. Já nos EUA, enfrentava problemas com seu visto de imigração, quando uma mulher chamada Beatrice Beecher se ofereceu para casar-se com ele para fins de regularização, divorciando-se após o feito.

Teve seu diploma de medicina reconhecido em 1927 e pôde, enfim, exercer a medicina em solo americano. Foi eleito como membro da Associação Americana de Psiquiatria e retomou a divulgação de suas técnicas, aprimorando sua teoria e atuando com jovens garotas, lutadores de boxe, entre outros. Conquistou respeito e fama em variadas camadas da sociedade, retomando o teatro espontâneo (renomeado como Impromptu Theatre) e atuando com sociometria, psicoterapia de grupo e psicodrama. Foi contratado por insituições de peso, como a Universidade de Columbia.

O criador do Psicodrama Inaugurou um hospital para transtornos mentais, o Beacon Hill Sanatorium e o Instituto Sociométrico, com seu irmão William. Entretanto, para alcançar seu máximo potencial criativo, Moreno buscava mais que o sucesso profissional, ele procurava por uma musa.

Uma das raras gravações de Moreno no Sanatório Beacon Hill em 1948, explicando o que é Psicodrama

Moreno e as Mulheres

Moreno considera-se um amante das mulheres. Conhecido por pessoas próximas como um homem sedutor, acredita que se tornou desse modo devido às experiências na sua infância. Se distanciou das mulheres durante sua fase profética, se relacionando apenas com Deus. Nos Estados Unidos, casou-se com Beatrice e teve um relacionamento distante com Gertrude Tone. Porém, ainda sentia falta da integração entre seu sua parte sexual e o Godplayer. Envolveu-se então, com algumas mulheres até que conheceu Florence Bridge, orientadora pedagógica na Hudson School for Girls. Após o relacionamento de um ano, casaram-se logo que o sanatório era inaugurado. Tiveram uma filha chamada Regina, mas o casamento deteriorou com o tempo e o divórcio aconteceu. Enquanto ainda era casado, Moreno conheceu uma jovem em seu consultório.

Celine Zerka Toeman procurou o criador do Psicodrama em busca de um psiquiatra para sua irmã. Consequentemente, Zerka continuou seu atendimento com o criador do Psicodrama, quando se apaixonaram. Decidiram não casar-se legalmente a princípio. Com o avanço do relacionamento, e da idade de ambos, Moreno achou pertinente ter um filho, para que sua esposa não ficasse sozinha no mundo após ele falecer. Após uma gravidez complicada, nasceu Jonathan em 1952. Zerka foi essencial para a concretização da obra de Moreno, além de administradora, escritora e professora, foi uma telentosa psicodramatista e pesquisadora sociométrica.

Zerka T. Moreno, esposa de Moreno e talentosa Psicodramatista e Escritora

Zerka enfrentou os críticos do psicodrama e assumiu gradualmente as funções do seu marido, enquanto o mesmo tinha sua saúde cada vez mais debilitada. Infelizmente, devido a um tumor, seu braço direito foi amputado. Isso não a impediu de continuar seu trabalho, voltando a fazer quase todas as atividades que podia realizar antes do procedimento cirúrgico e continuando o legado de Moreno após seu falecimento.

A Morte do criador do Psicodrama

Moreno viveu com a pretensão utópica de tratar toda a humanidade através do psicodrama. Ele acreditava que a sociometria e o psicodrama teriam lugar importante na história da sociologia e que sua teoria seria a responsável por curar o mundo.

Presumimos, talvez ingenuamente que se uma guerra pode espalhar-se pelo globo, deveria ser igualmente possível preparar e propagar uma sociometria mundial. Porém esta visão não surgiu do nada. Uma vez tratada com sucesso, toda uma comunidade, através de métodos sociométricos, pareceu-nos, ao menos teoricamente, possível tratar número infinitamente maior de tais comunidades pelos mesmos métodos– de fato, todas as comunidades que formam a sociedade humana.

Moreno em seu livro “Quem Sobreviverá?”.

Sem abandonar sua missão, o criador do Psicodrama seguiu acreditando até o fim. Faleceu de causas naturais aos 85 anos, na sua casa em Beacon, no dia 14 de maio de 1974. Em sua sepultura foram gravadas as palavras “Aqui jaz aquele que abriu as portas da `Psiquiatria à alegria”. Seu trabalho se difundiu pelo mundo, alcançando pelo menos parte do que o autor sonhava. Com sua clínica-escola formou centenas de psicodramatistas que se espalharam pelo mundo e continuaram a reproduzir sua teoria. Um dos países onde o psicodrama foi introduzido e ganhou grande força foi o Brasil.

Psicodrama no Brasil

O início da propagação do psicodrama para o hemisfério sul se deu quando Moreno recebeu seu primeiro estudante latino-americano, o argentino Rojas Bermudez. Seu projeto era torná-lo o seu representante na América do Sul. Enquanto isso, no Brasil, o conhecimento sobre o psicodrama chegava, ao fim da década de 40, através dos estudos de Alberto Guerreiro Ramos. Esse, um sociólogo baiano, introduziu as ideias morenianas à sua prática. Aqui, estudou, ensinou e publicou artigos sobre psicodrama e sociodrama, trabalhando com Abdias do Nascimento, o criados do Teatro Experimental do Negro. Com a instauração da ditadura no Brasil, Guerreiro Ramos fugiu para os Estados Unidos, não atuando mais em solo brasileiro.

Anos após a atuação de Guerreiro Ramos, em meados da década de 60, o psicólogo belgo-francês, Pierre Will, reintroduz a teoria de Moreno em seu trabalho com os funcionários do Banco da Lavoura de Minas Gerais. Por anos continuou atuando como psicodramatista no Banco Central e ensinando a teoria em cursos de formação. Com o advento da ditadura e a mudança da instituição para São Paulo, muitos documentos sobre sua prática foram destruídos. Com a liberdade de reunião suspensa, o trabalho com grupos ficou cada vez mais impossibilitado. O medo pairava sobre a população mas havia resistência. Em 1967 aconteceu o V Congresso Latino-Americano de Psicoterapia de Grupo em São Paulo, e o lançamento do primeiro livro sobre psicodrama de Pierre Will.

Um considerável número de profissionais já se utilizava das técnicas do psicodrama em sua prática. Em busca de aprofundamento nos conhecimentos sobre a teoria moreniana, entram em contato com Bermudez. Ele passa então, a realizar os Grupos de Estudos em Psicodrama de São Paulo (GEPSP), indo ao Brasil para dar formação a esses profissionais. Moreno, ao enxergar o potencial nesses grupos, encarrega-os de organizarem o V Congresso Internacional de Psicodrama. Em plena ditadura, a realização desse evento é vista como uma chama de resistência dos psicodramatistas brasileiros. Apesar de haver desavenças entre os GEPSPs, o congresso foi realizado e frequentado por um imenso número de pessoas, apesar da ausência de Moreno e Zerka que, devido a uma briga com Bermudez, decidiu não presenciar.

Após o congresso, o movimento estava dividido. Apesar de o psicodrama ter ganhado força com essa união, as desavenças entre grupos separaram também a formação em psicodrama. Julia Motta em seu livro Psicodrama brasileiro: História e Memórias, descreve a divisão em quatro vertentes que não se misturavam: O psicodrama triádico, liderado pelo grupo de Minas Gerais; o liderado por Rojas Bermudez, chamado de psicodrama bermudiano; o psicodrama baseado na proposta analítica de Dalmiro Bustos; e o psicodrama pedagógico de Maria Alicia Romaña e Marisa Grebb. A Federação Brasileira de Psicodrama (FEBRAP) foi criada e tem buscado, então, reunir as diferentes escolas que seguem a filosofia do psicodrama com um propósito em comum. Atualmente, possui escolas federadas em todas as regiões brasileiras, continuando a divulgação da teoria moreniana e a organização eventos de peso como os Congressos Brasileiros e Íbero-Americanos de Psicodrama.

O criador do Psicodrama

            O criador do Psicodrama foi um megalômano. Porém, não foi apenas um mero sonhador, ele foi fiel às suas convicções e deu o melhor de si para cristalizar o que ele acreditava ser a cura para humanidade, o psicodrama. Lendo a sua história fica mais claro os eventos em sua vida que culminaram no nascimento dessa filosofia transformadora. Comecei a acreditar no psicodrama através da prática, mas enquanto via suas técnicas como fenomenais, e sua teoria como transformadora, entrar em contato com a sua filosofia foi desafiador. A visão de ser humano e de mundo de Moreno é uma visão otimista, de esperança. Em um mundo onde estamos diariamente em contato com notícias devastadoras, guerras, fome, miséria e escassez, talvez olhar para a humanidade com a visão dele seja justamente o que precisamos para sobreviver à nossa era. como não sabemos sobre o futuro, nos resta viver o mais espontânea e criativamente que pudermos. Não sabemos como se dará o futuro, mas quem sabe um dia alcancemos a cura da humanidade como o criador do Psicodrama sonhou.

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